DIFICULDADE DE CONCENTRAÇÃO E DESINTERESSE DO ALUNO DURANTE AS AULAS : SAIBA ALGUMAS TÉCNICAS PARA VENCER ESSE DESAFIO
A
DIFICULDADE DE CONCENTRAÇÃO CAMINHA JUNTO COM O DESINTERESSE E, NESSAS
CIRCUNSTÂNCIAS, CABE BEM MAIS RESPONSABILIDADE POR PARTE DO PROFESSOR QUE DO
ESTUDANTE.
NESSE SENTIDO, SERIA DESEJÁVEL QUE, EM TODAS AS
AULAS, FOSSEM OBSERVADOS SEMPRE OITO PROCEDIMENTOS BÁSICOS, QUE SÃO OS
SEGUINTES:
1- SIGNIFICAÇÃO
NO QUE SE BUSCA APRENDER
A memória humana
teima em não guardar informações sem significado. Decorar que "Fabiana vai
à praia com seu chapéu amarelo" é naturalmente mais simples que tentar
memorizar que "De Béchar até Ghardaia percorre-se o contraforte do
Atlas". Isso ocorre não porque existe impropriedade na segunda afirmação,
mas, sim, por ser bem mais fácil imaginar uma pessoa chamada Fabiana usando um
chapéu para se proteger do sol enquanto vai à praia que a segunda situação
apresentada.
O que aqui
importa não é imaginar que algumas sentenças podem proporcionar mais
significações que outras, mas, sobretudo, que cabe ao professor construir para
os alunos as significações nos conteúdos que transmite, associando ou ajudando
os estudantes a associarem os temas escolares a fatos ou ocorrências do
cotidiano.
É A VELHA HISTÓRIA DO "NOVO NO VELHO", OU SEJA, A
IDÉIA DE QUE FIXAMOS NA MEMÓRIA UM NOVO SABER QUANDO ESTE SE ASSOCIA A OUTRO JÁ
EXISTENTE EM NOSSA ESTRUTURA CEREBRAL.
Isso explicaria, por exemplo, o fato de que um
garoto interessado em automobilismo aprende muito melhor sobre Química se em
uma aula é seduzido a pensar como um carro de fórmula 1 transforma combustível
em velocidade.
2- QUALIDADE
REFERENCIAL DAS ANOTAÇÕES FEITAS EM AULA
Existe um
aforismo que afirma que "a caneta é a melhor memória que existe", e
nessa sabedoria popular não há erro.
REALMENTE, UMA FORMA INTELIGENTE DE DESCANSAR A MEMÓRIA É ANOTAR. NO ENTANTO,
QUANDO SE TRATA DE SABERES ESCOLARES, IMPORTA BEM MENOS A QUALIDADE QUE A
QUANTIDADE DE ANOTAÇÕES e,
nesse contexto, mais uma vez a ação do professor mostra-se imprescindível.
PREPARAR UM CADERNO, LONGE DE SIGNIFICAR ATRIBUTO ALEATÓRIO EM
QUE CADA ALUNO O FAZ A SUA MANEIRA, REPRESENTA UMA IMPORTANTE ESTRATÉGIA DE
APRENDIZAGEM QUE CABE AO PROFESSOR, COM PERSISTÊNCIA, ENSINAR.
Para boas
anotações, nada melhor que criar mapas conceituais ou uma linha de seqüência de
conteúdos que, por exemplo, associe-se a uma árvore ou a uma rodovia.
Se o aluno
associar certos conteúdos de um todo a raízes, alguns a um tronco e outros a
galhos, ramos e, quem sabe, folhas, flores e frutos, memorizará melhor, pois,
ao evocar o tema, verá suas partes na estrutura de um corpo — nesse caso, a
árvore — que bem conhece.
3-EMPREGO DE ESTRATÉGIAS QUE ASSOCIEM A MEMÓRIA À EMOÇÃO
Busque suas
memórias mais vivas e mais fortes e estará, por certo,
encontrando as emoções mais intensas que viveu.
Quando um tema
se associa a uma ou mais emoções, agrega-se a nossa estrutura mental de tal
forma que, em certos casos, torna-se difícil esquecê-lo, ainda que seja isso
que se busque fazer.
Nesse caso, a
participação do professor é importante, ajudando seus alunos a fazerem uma
reflexão na qual associarão os saberes que apreenderam a essa ou aquela emoção
que viveram.
Ainda que as
emoções, é evidente, variem de um estudante para outro, não há um deles que não
tenha momentos emocionantes para associar aos temas a que sua memória parece
mais fortemente resistir.
Cabe destacar
que esse procedimento vale mais para questões mais complexas — até para não sobrecarregar a memória de lembranças emocionais —,
mas todo aluno que é levado a pensar em um ou outro tema "vendo-o" na
árvore que brincou, no rio que atravessou ou na partida de futebol que perdeu
por certo terá a ajuda dessa emoção quando precisar do apelo a uma evocação.
4- CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA ESTUDADO
Quando buscamos em
um dicionário o sentido de "contexto", encontramos "encadeamento
de idéias" e, se buscarmos "contextura", descobriremos que se
refere a "entrelaçar" ou "ligar as partes de um todo". Se
considerarmos esses dois sentidos na referência a um trabalho com as memórias
em sala de aula, seria lícito afirmar que "contextualizar" equivale a
encadear idéias, ligando parte de um todo ou, de forma ainda mais
significativa, TRAZER O QUE SE
ENSINA AO CONTEXTO DO ESTUDANTE, FAZENDO-O ASSOCIAR O APRENDIDO ÀS COISAS QUE FAZ
EM SEU COTIDIANO E QUE CONHECE.
É muito
desinteressante para uma criança ou um adolescente "mergulhar" seu
interesse em uma época que não viveu ou fingir-se um químico, físico ou
matemático para ingressar na lógica dos números, assim como é indiscutivelmente
desmotivador pensar em detalhes da morfologia litorânea ou da estrutura das
regras gramaticais.
Os saberes
escolares são mais facilmente arquivados na memória dele quando os fatos que
ouve se associam ao futebol que joga, à novela a que assiste ou aos desafios
que, no pátio da escola, todo dia enfrenta.
BUSCAR MEIOS DE
ENCADEAR ESSES SABERES E OS CONHECIMENTOS ESCOLARES CONSTITUI A ESSÊNCIA DA
AÇÃO DOCENTE.
O professor não ensina apenas
porque sabe, mas, sobretudo, porque pode fazer seu saber chegar à memória de
seu aluno e, por certo, por meio da contextualização mais facilmente conseguirá
fazer isso.
5- EMPREGO DE HABILIDADES OPERATÓRIAS DIVERSAS
Quando se
solicita a um estudante que descreva
uma teoria, está cobrando-se de seu cérebro uma ação bem diferente da que
se pede quando se solicita que, em vez de fazer uma descrição, ele compare. E quem é levado a descrever e,
depois, a comparar retém com mais facilidade que aquela pessoa que apenas
descreve ou compara.
DESSA FORMA,
TRABALHAR EM SALA DE AULA AS HABILIDADES OPERATÓRIAS SIGNIFICA FAZER USO
FREQÜENTE E CONTÍNUO DE VERBOS DE AÇÃO QUE INDUZEM O CÉREBRO A PROCEDIMENTOS
DIFERENTES.
É por essa
razão que todo aluno que repassa um saber observando, conferindo, seriando,
localizando, relatando, combinando, demonstrando, classificando, analisando,
aplicando, deduzindo, criticando, conceituando, especificando, revisando
e discriminando guarda o conhecimento de forma
bem mais significativa que outro que se utiliza apenas de uma ou duas dessas
habilidades operatórias.
É evidente que
elas são tantas e tão diversas que parece extrema ousadia recomendar, para
amparo de melhor uso da memória, o emprego integral dessa lista, mas, se a
tarefa é conscientemente dividida entre os professores e é proposta como
desafios progressivos, começando pelas atividades mais simples, não será
difícil perceber o quanto o uso delas interessa a uma aprendizagem significativa.
6- ALTERNÂNCIAS QUANTO AO TIPO DE LINGUAGEM UTILIZADA
(VISUAL, AUDITIVA E CINESTÉSICA)
QUANDO LEMOS UMA MENSAGEM, ESTAMOS ATIVANDO NOSSA MEMÓRIA DE
CONHECIMENTO, IDENTIFICAÇÃO OU PLANEJAMENTO, MAS SE, ALÉM DA LEITURA,
PROCEDEMOS A UMA OPERAÇÃO DE ESCRITA, NOSSO CÉREBRO REAGE DE FORMA MAIS
POSITIVA, POIS UMA AÇÃO A OUTRA SE SOMOU.
SE, AO LADO DA LEITURA E DA REDAÇÃO,
BUSCARMOS DESENHAR OU CONSTRUIR UM GRÁFICO ASSOCIANDO-O À MENSAGEM LIDA OU,
QUEM SABE, FAZER DESTA UM VERSO, UMA PARÓDIA OU UMA COLAGEM, É QUASE CERTO QUE
ELA SERÁ MAIS FORTEMENTE MEMORIZADA.
É, POIS, POR ESSA RAZÃO QUE É INTEIRAMENTE VÁLIDO O PROFESSOR PASSAR OS CONTEÚDOS
PARA LINGUAGENS DIFERENTES, ESTIMULANDO O ESTUDANTE, QUANDO POSSÍVEL, A LER,
CANTAR, DESENHAR, COLAR, FAZER MÍMICAS, CONSTRUIR PARÓDIAS, BUSCAR METÁFORAS OU
"FABULAR" SOBRE O TEMA (NARRANDO-O EM FORMA DE UMA FÁBULA E,
PORTANTO, DE MANEIRA BREVE E ALEGÓRICA).
É certo que
proceder dessa forma em relação a todos os conteúdos escolares é um absurdo. Entretanto,
essa estratégia pode perfeitamente ser utilizada para alguns assuntos mais
abrangentes, temas que se apresentam essenciais para a devida
compreensão significativa de outros que a ele se encadeiam.
6- USO (EVENTUAL) DE RECURSOS MNEMÔNICOS
O maior
inconveniente da utilização de uso de recursos mnemônicos (QUE TEM RELAÇÃO COM A
MEMÓRIA; QUE AJUDA A MEMÓRIA) é que todas as
outras alternativas propostas estão associadas à significação, enquanto esta é puramente mecânica.
É por esse
motivo que o uso deles deve ser restrito e circunstancial, mas nem por isso
deixa de ser válido em uma ou outra oportunidade.
Quando decoramos
"Prometa telefonar, Ana" para gravarmos na memória etapas da mitose
biológica (prófase, telófase e anáfase) ,estamos, na verdade, valendo-nos de
recursos mnemônicos válidos para esse ou aquele conteúdo que, por sua natureza,
necessite apenas de um exercício mecânico para ser armazenado na memória.
7- VERBALIZAÇÃO CÊNICA DOS CONTEÚDOS A APRENDER
Uma forma
extremamente interessante de fixar fatos na memória, ainda que mais
significativa para alguns alunos que para outros, pois seu
estilo de aprendizagem mostra-se mais cinestésico que visual, é, sempre que
possível, ministrar uma aula diante do espelho sobre o
tema que se deseja aprender.
Quando um
estudante, em casa, assim age, não está apenas impondo uma repetição à memória,
mas, principalmente, associando a ela seus gestos, sua voz e sua ação, que,
fotografados pelo cérebro, podem mostrar-se expressivos quando for necessário
lembrar o conteúdo. Mais
uma vez, reitero o que antes disse. UMA
ESTRATÉGIA COMO ESSA NEM SEMPRE É POSSÍVEL E, SE PARA TODOS OS TEMAS O ALUNO
NECESSITASSE SE VALER DESSE RECURSO, SEU TEMPO, POR CERTO, SERIA INSUFICIENTE. Mas é justamente essa limitação que
faz aflorar a importância de que o estudante saiba como melhor administrar o
tempo de estudo e, dessa forma, priorizar uma ou outra estratégia, valendo-se
deste ou de outro procedimento.
Cabe,
concluindo, repetir o que antes já foi destacado.
TEXTO : Xiiii, professora, deu um "branco" II
Celso Antunes é professor e psicopedagogo
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